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Memória U.Porto

Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto

Cristina Amélia Machado

Inexistência de fotografia Cristina Amélia Machado
c.1860-1884
1.ª Aluna da Academia Portuense de Belas Artes

Um facto de certa importância merece mencionar-se, como uma tendencia exemplar para os conhecimentos que entre nós a mulher vae desejando adquirir. No numero dos alunos matriculados na Academia de Bellas Artes, do Porto, conta-se um do sexo feminino, a Sr.ª D. Christina Amelia Machado, que no certâmen de que se trata, exhibe tres provas muito apreciaveis da sua vocação artística. Duas d’ellas, uma copia de estampa e um desenho do antigo, mereceram elogio e menção honrosa. Esta senhora, se continuar a frequentar o curso póde vir a dar, pelo menos, uma excelente professora, que naturalmente ha de libertar as suas alumnas da rotina aniquiladora da copia servil de lythographias impossíveis.
(Ocidente, 11 de dezembro de 1884, p. 278)



Cristina Amélia Machado, filha de Inácio José Machado, fiscal no Pocinho, e de Maria Júlia Guedes, e irmã de Maria da Luz Machado (Reis), nasceu na Coriscada, atual concelho da Meda, a 17 de agosto de 1860.

Em 1865 o seu pai assumiu o cargo de subchefe Fiscal da Alfândega do Porto, o que motivou a mudança da família para a cidade Invicta.

Em abril de 1881 Cristina exibiu um retrato a crayon do ator lisboeta Júlio Soller, no estabelecimento de comerciante de origem espanhola D. Manoel Costenla, na rua de Santo António (atual rua de 31 de Janeiro) e, em outubro do mesmo ano, a imprensa noticiou o retrato que ela fez de Anselmo Evaristo de Morais Sarmento (1847-1900), proprietário do jornal A Actualidade e pai das pioneiras irmãs Morais Sarmento: Laurinda, a primeira mulher diplomada na Escola Médico-Cirúrgica do Porto; Aurélia, a primeira mulher diplomada pela EMCP; Guilhermina, uma das primeiras clínicas portuguesas e Rita, a primeira engenheira portuguesa.

Cristina fica na história da Universidade do Porto como a primeira mulher a frequentar a Academia Portuense de Belas Artes na sequência da reforma escolar decretada a 22 de março de 1881 (Diário do Governo, n.º67, de 26 de março desse ano), que permitiu o ingresso de alunas neste estabelecimento de ensino e delas exigiu a realização dos mesmos estudos e provas que os colegas do sexo masculino, excepto o estudo de modelo vivo, que permanecia uma atividade exclusivamente reservada aos alunos. A Academia congénere de Lisboa registara a matrícula de quatro senhoras no ano letivo de 1879-1880.

É referida na ata da sessão de conferência ordinária da Academia Portuense de Belas Artes de 1 de julho de 1882, a qual regista que Em atenção aos bons trabalhos que apresentou D. Christina Amélia Machado, que havia requerido para seguir o curso de desenho histórico muito depois do encerramento das matrículas concedeu-se-lhe que fosse admitida aos exames do primeiro e do segundo ano.

No mesmo ano volta a ser mencionada, desta vez, no relatório anual da Academia enviado ao governo pelo Inspector da instituição, o conde de Samodães (que exerceu o cargo entre 1881 e 1906), datado de 18 de setembro de 1882, onde se pode ler: (…) requereu para cursar a aula de desenho uma Senhora D. Cristina Amélia Machado, o que lhe foi concedido, dando-lhe um repartimento separado para ela trabalhar sem estar próxima dos alunos (….) e mais se informa que no ano letivo de 1881-1882 a estudante fez exame do 1.º ano, com elogio e 16 valores, e também do 2º ano, no qual foi aprovada.

Do magro processo de aluna existente no arquivo da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto constam apenas três documentos: os requerimentos para matrícula em Desenho Histórico, relativos aos 3.º e 4.º anos e datados de 12 de outubro de 1882 e de 10 de outubro de 1883, respetivamente, e o atestado médico, passado por António de Oliveira Monteiro, justificativo da sua ausência às aulas entre 15 de maio e 25 de julho de 1884, por motivos de saúde (bronquite crónica).
Escultura Cabeça de Alexandre de Cristina Amélia Machado / Sculpture Cabeça de Alexandre by Cristina Amélia MachadoA aspirante a artista integrou a XIV edição da Exposição Trienal da Academia Portuense de Belas Artes, em 1884, apresentando três provas: cabeça de Alexandre, cópia de gesso; Cincinnato, cópia de estampa, exame do 1.º ano que obteve elogio e a classificação de 16 valores em conferência geral da APBA, a 31 de agosto de 1882; e Mercúrio sentado, desenho do antigo, que mereceu menção honrosa em 1883.

Foi condiscípula de grandes nomes da arte nacional como os escultores António Teixeira Lopes e Tomás Costa, o pintor João Augusto Ribeiro e os arquitetos Miguel Ventura Terra e Adães Bermudes e discípula do mestre Marques de Oliveira.

Cristina Amélia Machado faleceu na sua casa, sita no número 66 da rua Formosa, no Porto, a 30 de novembro de 1884, com apenas 24 anos de idade, vítima de tísica pulmonar.

A notícia da sua morte foi recebida na Academia Portuense de Belas Artes, na sessão de conferência ordinária de 1 de dezembro, na qual se decidiu lançar um voto de sentimento, e foi assim descrita no periódico O Commercio do Porto do dia seguinte:

Faleceu antehontem, no desabrochar da vida, a snr.ª D. Christina Amelia Machado, filha do Snr. Ignacio José Machado, empregado da alfandega desta cidade. A finada cursava com distinção a Academia Portuense de Bellas-Artes e apresentou alguns trabalhos, que mereceram louvor, na ultima exposição trienal de bellas-artes. Compreendendo a dôr que feriu o coração amantíssimo do pai estremecido, enviamoslhe o nosso sincero pezame. Os responsos fúnebres celebraram-se hontem, na parochial de Santo Ildefonso.

Os colegas da APBA mandaram rezar uma missa em sufrágio da sua alma.
Foi sepultada no jazigo n.º37 do Cemitério da Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, pertença de António José Antunes Canavarro (1803-1867), conde de Lagoaça.

Depois de Cristina Amélia Machado as alunas regressaram, em definitivo, à Academia Portuense de Belas Artes, a partir de 1885, com o ingresso de Maria da Graça Vieira Gomes, no ano lectivo de 1885-1886.
(Universidade do Porto Digital / Gestão de Documentação e Informação, 2015)

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