António Maria Mourinho 1917-1996 Etnógrafo, etnólogo e arqueólogo |
António Maria Mourinho nasceu em Sendim, Mirando do Douro, a 14 de fevereiro de 1917.
Estudou no Seminário de S. José em Bragança. Depois de concluir o Curso de Teologia, começou a lecionar, em 1941-1942, as disciplinas de Apologética e História de Portugal. Em 1942 encetou amizade Francisco Manuel Alves, Abade de Baçal (1865-1947), e foi nomeado pároco da Duas Igrejas, em Miranda do Douro.
Por essa altura inicia recolha histórica, antropológica e cultural das Terras de Miranda e criou (1945) o grupo de Pauliteiros de Miranda, de Duas Igrejas e Cércio, que dirigiu até 1991, assumindo-se como embaixador desta dança.
António Mourinho foi também encenador e apresentador de autos e peças de teatro em mirandês, genuínas manifestações etnográficas conhecidas pelo nome de colóquios, para os quais, por vezes, escreveu as “profecias”, isto é, a introdução geral da peça em que é revelado todo o enredo e desenlace, a cargo de um personagem também assim chamado (profecia).
Fez investigação enquanto bolseiro de instituições científicas nacionais e espanholas, face ao interesse que estas manifestavam pelo tema. Desenvolveu estudos nas áreas da Arqueologia e da Etnologia. Nos anos 60 e 70 estudou em Espanha, com financiamento do Instituto de Alta Cultura, da Direção-geral do Património Cultural e do Consejo Nacional de Investigaciones Cientificas de Madrid, tendo como objetivo aprofundar os conhecimentos sobre as raízes da cultura mirandesa.
António Mourinho participou em colóquios e congressos onde proferiu comunicações sobre língua, literatura popular, etnologia, música, dança e arqueologia mirandesas. Quando presidiu ao Grupo Folclórico Mirandês de Duas Igrejas fez numerosas viagens, assim dando a conhecer a cultura das suas gentes.
Entre 1962 e 1977 lecionou no ensino básico e liceal e, durante algum tempo, dirigiu a Secção Liceal de Miranda do Douro. Entretanto, diplomou-se em Ciências Históricas e Geográficas na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1970-1975).
Depois de ter sido nomeado diretor do Museu da Terra de Miranda (1982-1991), que contribuiu para fundar em 1982, fez uma pós-graduação em Museologia (1984-1985) na Universidade de Valladolid.
A seu pedido foi dispensado dos votos sacerdotais a 25 de março de 1993. Casou pouco depois, em Lisboa.
Em 1995, participou ativamente no grupo que elaborou a Convenção Ortográfica da língua mirandesa, publicada, em definitivo, em 2000.
Ao longo da vida recebeu numerosos prémios e condecorações - Oficial da Ordem Militar de Cristo (1943), Medalha de Mérito Turístico, grau prata (1979), Prémio Europeu de Arte Popular (1982), Cidadão Honorário e Medalha de Honra da Cidade de Miranda do Douro, grau de ouro (1991). António Mourinho integrou diversas sociedades e instituições culturais e científicas, como o Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia, a Associação dos Arqueólogos Portugueses, a Sociedade de Geografia, de Lisboa, a Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, do Porto, a Asociacion Española de Etnologia y Folklore de Madrid. Foi académico correspondente da Academia Portuguesa de História.
Colaborou com outros investigadores, nomeadamente com Bento Bessa, Afonso Valentim, Carlos Alberto Ferreira de Almeida e, sobretudo, com J. Santos Júnior.
Deixou uma vasta obra literária e académica, reunida postumamente. Alguns dos seus escritos não assumiram a versão definitiva devido ao elevado número de projetos em que António Mourinho se envolveu.
Com a sua morte, em 13 de julho de 1996, desapareceu o maior defensor da cultura mirandesa.
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2014)