António da Costa de Paiva (Barão de Castelo de Paiva) Médico, botânico, professor e 1.º diretor do Jardim Botânico |
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António da Costa de Paiva, filho de Manuel José da Nóbrega, negociante, natural de Castelo de Paiva, e de D. Maria do Carmo da Costa, nasceu no Porto a 12 de outubro de 1806.
Bacharel em Filosofia e Medicina pela Universidade de Coimbra e doutor em Medicina pela Universidade de Paris, obteve este último grau após a defesa de uma tese sobre a tísica pulmonar, elaborada durante o exílio a que o conduziram os seus ideais liberais. Quando pôde regressar a Portugal, exerceu clínica privada.
Entre 1834 e 1836 regeu a cadeira de Filosofia Racional e Moral na Academia Real de Marinha e Comércio da Cidade do Porto. Em 1836 foi nomeado lente de Agricultura e Botânica nesta Academia por decreto de 20 de outubro e carta régia de 3 de janeiro de 1837. Neste ano, aquando da reforma da Academia Real da Marinha e Comércio e criação da Academia Politécnica do Porto, passou a ser o 1.º lente proprietário da 10.ª cadeira – Botânica, Agricultura, Metalurgia e Arte de Minas, funções que exerceu entre 1838 e 1858. Por inerência do cargo, foi nomeado primeiro diretor do Jardim Botânico pelo decreto de 11 de janeiro e carta régia de 28 de julho de 1838. Assegurou estas funções entre 1838 e 1855.
Um ataque de tuberculose pulmonar afastou-o da cátedra, recebendo tratamento na ilha da Madeira, tendo-se mais tarde jubilado com a categoria de lente por decreto de 31 de dezembro de 1858 e carta régia de 19 de janeiro de 1859.
O restabelecimento do seu estado de saúde possibilitou-lhe uma intensa atividade de exploração científica nas chamadas ilhas da Macaronésia, sobretudo nos arquipélagos da Madeira, Canárias e Cabo Verde, onde estudou insetos e moluscos e descobriu novas espécies, na companhia de distintos cientistas como John Edward Gray e Vernon Wollaston. As coleções que reuniu foram posteriormente estudadas por Bernardino António Gomes e Barbosa du Bocage.
Escreveu sobretudo trabalhos de caráter científico. Foi autor de obras como "Aphorismos de medicina e cirurgia práticas" (1837), "Relatório do Barão de Castello de Paiva, encarregado pelo governo de estudar o estado da Ilha da Madeira, sob as relações agrícolas e económicas" (1853), "Descripção de duas espécies novas de coleópteros das Ilhas Canárias" (1861), "Novíssimos ou últimos Fins do Homem" (1866), depois de se converter ao cristianismo em 1851, e "Biographia" (1877).
Iniciou a publicação de obras literárias com a tradução comentada dos romances de Voltaire. Em 1837 editou a "Crónica d'El-Rei D. Sebastião", de Frei Bernardo da Cruz, juntamente com Alexandre Herculano (1810-1877) e o "Roteiro da Viagem de Vasco da Gama" atribuído a Álvaro Velho, com Diogo Kopke (1805-1875); numa segunda edição, em 1860, com Alexandre Herculano.
A propósito da sua obra escrita, disse Camilo Castelo Branco: "A forma, o dizer, é de tão bom quilate portuguez, que apenas podereis estremar a vernaculidade do auctor dos Soliloquios d'entre as paginas lusitaníssimas do auctor dos Novissimos, que tanto hombro se eleva como o oratoriano (P. Manuel Bernardes), de quem temos um devoto livro idêntico na tenção e no título."
Júlio Dinis referiu-se ao Barão de Castelo de Paiva na sua obra "Os Fidalgos da Casa Mourisca", a propósito de um animado diálogo sobre Frenologia, Metafísica e Filosofia que ele terá mantido com um alemão, administrador da Casa de Orneias, na Madeira.
No decurso da sua carreira, António da Costa de Paiva foi distinguido com diversos títulos e cargos honoríficos. O grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo e da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa foi-lhe atribuído em 1836 e o título nobiliárquico de Barão de Castelo de Paiva em 1854.
António da Costa de Paiva foi membro de academias e sociedades científicas, nacionais e estrangeiras, como a Academia Real das Ciências de Lisboa (sócio efetivo), a Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, a Sociedade Zoológica de Londres, a Sociedade de História Natural de Cassel, a Sociedade das Ciências Naturais de Estrasburgo, as sociedades botânicas de França e Edimburgo, a Real Academia Imperial do Rio de Janeiro, a Academia de Medicina e Cirurgia de Toulouse (sócio correspondente) e a Academia de Medicina de Montpellier (sócio correspondente). Foi vogal extraordinário do Conselho Geral de Instrução Pública, até à extinção deste em 1868.
Legou parte da sua fortuna a hospitais, instituições de caridade e a associações científicas e culturais e estabelecimentos de ensino. Ofereceu à Academia Real das Ciências de Lisboa o seu herbário da Madeira, composto por 600 espécies, e uma coleção botânica de 372 espécies, recolhida nas ilhas das Canárias. Ofereceu ao Museu dos Jardins Botânicos Reais de Kew, em Inglaterra, um herbário com plantas indígenas de Portugal e dos Açores. À Academia Politécnica do Porto doou uma inscrição de assentamento da Dívida Pública Portuguesa no valor de 1 000$00 reis, em benefício do Jardim Botânico. Em 1879 deixou 1 conto de reis à Academia Portuense de Belas Artes para a criação de um prémio a atribuir ao melhor quadro de temática bíblica presente na exposição trienal daquela Academia. Instituiu um legado – o Legado do Barão de Castelo de Paiva - na Escola Médico-Cirúrgica do Porto: "Pertence, por minha morte, a propriedade d'esta inscripção á Escola Medico-Cirurgica da cidade do Porto para servir de premio o seu juro anual ao alumno da mesma Escola que mais destreza mostrar nas operações cirúrgicas, ou nas dissecações anatomicas do corpo humano; reservando para mim o direito de receber o juro enquanto eu vivo fôr. Funchal, 22 d'outubro de 1874". (Annuario da Escola Medico-Cirurgica do Porto : Anno lectivo de 1906-1907, p.143)
Faleceu na ilha da Madeira a 4 de junho de 1879.
Universidade Digital / Gestão de Informação, 2012. Revisão científica de Jorge Fernandes Alves (FLUP)