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Memória U.Porto

Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto

João António Correia

Auto-retrato de João António Correia, do Museu Nacional de Soares dos Reis / Self-portrait of João António Correia (Soares dos Reis National Museum) João António Correia
1822-1896
Pintor e professor



João António Correia nasceu no Porto a 26 de Dezembro de 1822. Era filho de António José Correia, negociante do ramo têxtil, e de Tomásia Rosa Graça, residentes no já desaparecido Largo do Corpo da Guarda.

Durante os anos lectivos de 1836-37 e 1837-1838 estudou Desenho na Academia Real de Marinha e Comércio da Cidade do Porto (instituição convertida em 1837 na Academia Politécnica do Porto) como aluno voluntário. Em 1838-39 matriculou-se no 1.º ano do curso matemático, tendo sido aprovado no exame final. Prosseguiu o curso de Desenho, como aluno ordinário. Para efeitos de exame, desenhou uma réplica da estampa "Vénus ligando as asas de Amor". Foi aprovado por unanimidade e premiado.
No ano lectivo de 1839-1840 requereu a frequência, como aluno voluntário, da Aula de Pintura Histórica da Academia Portuense de Belas Artes. Nesta Escola, onde passou 7 anos, frequentou as aulas de Anatomia Pictórica e de Perspetiva Linear e Ótica, assim como as aulas de Pintura Histórica. Obteve o 1.º prémio no concurso trienal com uma pintura intitulada "A morte do conde Andeiro", apresentada na 1.ª exposição trienal de 1842. A 29 de Julho de 1843, enquanto frequentava o 4.º ano do curso, requereu a admissão ao concurso para o lugar de lente substituto de Desenho da Academia Politécnica. No entanto, viu a sua candidatura anulada por não ter a idade mínima exigida por lei. O lugar foi ocupado por Thaddeo Maria d’Almeida Furtado. Prolongou a frequência do 5.º ano do curso de Pintura durante, como aluno voluntário, a fim de aperfeiçoar a sua formação.

Auto-retrato de Chassériau (1835, Museu do Louvre, Paris) / Self-portrait of Chassériau (1835, Louvre Museum, Paris)Entre 1848 e 1854 viveu em Paris com uma subscrição particular paga por um grupo de portuenses, entre os quais se destacava a figura do padre e mecenas Manuel de Cerqueira Vilaça Bacelar.
Com o pintor Théodore Chassériau (1819-1856), discípulo de Jean-Auguste Dominique Ingres (1780-1867) preparou o concurso à Escola de Belas Artes de Paris, não se sabendo, no entanto, se foi admitido, sendo plausível que tenha procurado formação em ateliês privados. Frequentou, comprovadamente, a Academia Imperial das Belas Artes de Paris, contactando de perto com várias correntes artísticas como o classicismo, o naturalismo e o romantismo, influenciadores da sua pintura.

Em 1851, foi nomeado professor substituto da Aula de Pintura Histórica da Academia Portuense de Belas Artes, vindo depois a ascender ao cargo de professor. Foi nomeado a 25 de Novembro de 1857 e tomou posse no dia 10 de Dezembro do mesmo ano.
Logo no primeiro ano, em 1858, João Correia introduziu o modelo vivo e a Aula de Nu no programa da Aula de Desenho Histórico. Acompanhava de perto os alunos, entre os quais se incluíram Soares dos Reis, Marques de Oliveira, Silva Porto, Henrique Pousão e Artur Loureiro e investia na componente prática das aulas. Desempenhou o cargo de diretor da Academia Portuense de Belas Artes entre 25 de Outubro de 1882 até à data da sua morte, em 1896.

Como pintor, e entre 1842 e 1887, participou em quase todas as exposições trienais da APBA, tendo recebido sempre os maiores elogios. A sua pintura também esteve representada nas mostras da Sociedade Promotora das Belas Artes.
A maioria das encomendas que recebeu constavam de retratos da burguesia portuense e da realeza, embora também tenha pintado retratos de outros pintores, de músicos e de colegas, aplicando em todos eles um estilo próximo do de Roquemont. A título de exemplo, pintou o retrato de Manuel de Clamouse Browne (1823?-1870), sócio-fundador da Associação Comercial do Porto e de Constantino António do Vale Pereira Cabral (1806-1873), fundador do Club Portuense.

Retábulo-mor da igreja de Santo Ildefonso / Altarpiece of the church of Santo IldefonsoFez desenhos de preparação das suas telas e outros registos reveladores da sua maestria. Realizou pintura religiosa para a Igreja Matriz de Valongo (1845), designadamente dois quadros para os altares laterais representando a "Custódia adorada por Anjos" e "Cristo na Agonia" e um esboço para a tribuna da capela-mor, embora não concretizado, sobre a "Adoração dos Pastores". Estas pinturas não se encontram atualmente na Igreja. É também de sua autoria a pintura da tribuna da capela-mor da Igreja de Santo Ildefonso no Porto, datada de 1858 e designada "Santo Ildefonso adorando a Custódia".

João António Correia pintou retratos régios, como o de D. Pedro V para o Teatro Nacional de S. João, já desaparecido, e os de D. Maria II e de D. Luís para o Palácio da Bolsa (sede da Associação Comercial do Porto), assim como e auto retratos, exibidos nas trienais da APBA (um datado de 1848 e outro de 1863).

Participou nas cenografias montadas para a entrada régia no Porto de D. Luís I e D. Maria Pia, em 1863. Recorreu à técnica da litografia para retratar personalidades e litografar pinturas suas, como é o caso do retrato do músico Francisco Eduardo da Costa (1818-1855).
Produziu pintura histórica de que é exemplo a tela "Rainha Santa distribuindo esmolas aos pobres", de 1877 (Museu Nacional de Soares dos Reis), que retoma um tema muito presente na sua carreira, e "Auto de Fé", de 1869, também patente no mesmo Museu, assim como uma tela apresentada na X Exposição Trienal da APBA e transformada em litografia.

O Negro, de João António Correia (1869, Museu Nacional de Soares dos Reis) / O Negro, by João António Correia (1869, Soares dos Reis National Museum)A sua tela mais popular é, seguramente, "O Negro". Pintada em 1869, pertence ao acervo do Museu Nacional de Soares dos Reis. É uma tela invulgar, não só devido ao tema que é exótico, mas também à exuberância do seu tratamento.
Outras obras suas integram vários museus e outras instituições nacionais, como o Museu da FBAUP, a Casa-museu Fernando de Castro, a Associação Comercial do Porto, no Porto, a Casa-museu Teixeira Lopes, em Vila Nova de Gaia, o Museu Municipal de Viana do Castelo, a Casa-museu Almeida Moreira e o Museu Grão Vasco, em Viseu, o Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra e o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.

Pouco antes de falecer, parte da obra de João António Correia foi doada, por vontade do artista, à Academia Portuense de Belas Artes. Porém, a maioria do legado veio depois a ser leiloado e disperso por coleções públicas e privadas.

Morreu à uma hora da madrugada de 16 de Março de 1896, na sua casa sita no n.º 32 do Largo do Corpo da Guarda (já desaparecido), no Porto.
No dia 28 desse mês, a APBA registou um voto de pesar pelo falecimento do professor e diretor da Academia e atribuiu a inventariação da sua obra a João Marques da Silva Oliveira, que listou as peças a adquirir pela Escola.
No ano seguinte, a casa do pintor acolheu um leilão do seu espólio, anunciado no jornal "Comércio do Porto" e do qual constavam 75 pinturas (obras da sua autoria, da autoria do irmão e de outros artistas, como João Baptista Ribeiro e João Glama), para além de gravuras, litografias, fotografias e gessos.

Atualmente, João Correia é considerado uma figura relevante da arte portuguesa de Oitocentos, pela sua atuação na Academia de Belas Artes, enquanto professor e diretor, num momento de criação institucional do ensino das Belas Artes, mas também por ter contribuído para a renovação do retrato da segunda metade do século XIX.
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2011)

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